Deuses
Muitas vezes ficamos intrigados com relação à possível afinidade entre o tão pregado e cantado Deus Eterno e nós os seres mortais. Viajar um pouco nesta questão é interessante, pois com isso podemos juntos grampear alguns itens que podem nos dar energia para nossa empreitada diária.
Em primeiro plano, quero deixar claro que não trato este assunto do ponto de vista religioso, afinal de contas, cada um de nós tem sua particularidade dentro da psique.
Para aqueles que se intitulam “íntimos de Deus” é possível, que apresentem este caso como sendo um caminho de fácil compreensão, mas para mim reúne complexidade, generosidade e acima de tudo: bondade.
Por falar em bondade, confesso que passei anos da minha vida meio desnorteado nessa questão, e, de maneira fixa, pensativo na dívida que constantemente tinha para com o Divino. Não conseguia vislumbrar a razão do Seu carinho e amabilidade para conosco, sempre pensava nEle como sendo um velho carrancudo, que constantemente nos remetia raios de punição, castigo, repreensão. Pra falar a verdade, recebi constantemente esses duros ensinamentos na minha tenra idade, e quando virei adolescente já não queria muito saber desse deus rústico que haviam implantado na minha memória.
Muitos passam anos querendo alcançar a perfeição, sonhando ter asas nas costas, cobiçando virar anjo. Daí passam noites pensando apenas na vida que terão após morte. O medo do inferno lhes tira o desejo da vida que reina aqui e agora. Não somos espécies angelicais, somos humanos. Sempre seremos.
O Poderoso Eterno é sabedor de todas as coisas, principalmente de nossa estrutura interna. Por isso nenhuma perfeição é exigida de nós, apenas compreensão, misericórdia e compaixão, pra que a vida flua de maneira sadia, agradável e “simples”. Além do mais, nenhum sacrifício nos é solicitado, pois o Pai e o Filho já se sacrificaram pela humanidade. Contudo estamos inseridos num contexto onde o sistema religioso sempre quer prevalecer, infelizmente. Com plena lucidez, digo que ainda hoje nos distanciamos de nossa realidade, pois sempre exigimos e cobramos o sacrifício, a perfeição a pureza, daqueles que nos cercam. Com isso a ternura, o afeto e a amizade continuamente vão sendo sufocados, esmagados pelas entranhas de um sistema rude que criamos e insistimos em manter.
Com certeza muitos não buscam a Deus por amá-lo. Estão na verdade interessados apenas nos benefícios que podem dEle receber. Outros o buscam porque sentem medo do inferno ou do desconhecido. Pensamos que para nós seres temporais/mortais, os constantes sofrimentos e por fim a morte são vistos como coisas anormais, monstruosas. Mas creio que para Deus é apenas a maneira lógica de nos transportar para a eternidade.
Hoje penso que há dois tipos de Deus. O Primeiro é aquele deus que os seres humanos criaram. O outro é o Deus que criou os seres humanos.
O Deus criado pelos humanos julga, condena, exclui, ama condicionalmente, dedica-se mais a uns do que aos outros, discrimina, destrói e mata. Ama mais o sistema religioso do que o próprio homem. É bem parecido conosco!
O Deus que nos criou é solidário, ama incondicionalmente, poupa, protege, agasalha, alivia, acalma, inclui, jamais discrimina, se preocupa, nunca destrói, tampouco mata. É de uma amabilidade incondicional para com todos. O ser humano é uma de suas preciosidades!
Abraços.
Carlão