EU
E O MAR
No ultimo sábado estava
incumbido de realizar plantão (trabalho) numa determinada ilha em Ubatuba. Durante
a semana já havia planejado em que caso o tempo estive “bom”, faria a travessia
entre continente-Ilha de caiaque, já que o percurso entre ambos não é muito
longo, medindo em torno de 6km. Na noite anterior pesquisei a previsão do tempo
juntamente com a altura das ondas e vi
que tudo tava dentro dos conformes.
Assim que amanheceu não deu
outra, lavei o caiaque em seguida “botei” em cima da minha parati véia e “si
mandei”...rsss
Com o caiaque já nas águas
do mar, quando comecei a remar percebi que havia lavado o remo do stand-up (que
tem apenas uma pá). Fiquei muito p.... Pois não daria para remar todo o trecho
com esse tipo de remo. Fiquei ali
brigando comigo mesmo, mas logo lembrei que conhecia o dono de uma pousada que
se localizava próxima da praia e não deu outra, fui lá e emprestei o tão
esperado remo.
Entre uma remada e outra fui
contemplando aquela cor verde escura, composta pelo conjunto das florestas, que
de vez em quando parece tocar a beirada das águas. Na linha do horizonte o céu
atinge o mar e às vezes nem conseguimos perceber quem é quem nesse conjunto. Tudo
isso somado com as cantigas das aves marinhas, o saltitar e o reboliço dos
peixes sobre as águas, juntamente com o som do mar... Nesse “transe” quando
percebi já estava encostando a proa do meu navio numa daquelas praias da Ilha. Tudo
isso feito em 45 minutinhos.
Dentre um trabalho e outro,
la pelo meio da tarde uma pessoa me procurou dizendo que se por um acaso eu
tivesse com interesse de voltar de caiaque novamente não poderia demorar muito tempo para fazer isso, tendo em vista que segundo
ele o tempo estava escurecendo e que após
as dezesseis horas havia possibilidade de “cair” ventos um tanto quanto fortes.
Não pensei duas vezes,
minutos depois ensaquei o documento do carro juntamente com dois celulares, mais
a roupa e “botei” pra remar novamente com destino ao continente.
Meu olhar para o ambiente
que estava em minha volta desta vez já não era mais tão contemplativo como fora
no período da manha. O caiaque também não
deslizava suavemente como outrora, e de uma hora pra outra começou a se formar “carneirinhos”
nos locais onde as águas estavam até então bem tranqüilas.
Repentinamente uma rajada de
vento forte quase me lançou fora da embarcação, quando nesse instante pensei em
voltar para o local onde estava, mas naquele momento esse ato já estava muito difícil
de acontecer, devido àquela força dos ventos.
Fui me aproximando da costeira na tentativa achar um abrigo
qualquer, ou até mesmo deixar o caiaque, mas as ondas já estavam se chocando muito forte com as pedras, e não tive boas sensações nessas “tentativas”.
A partir daí as chuvas, os ventos
e as ondas começaram a ser as minhas “companheiras”. E foi no coração dessa “tempestade”
que resolvi atravessar o local chamado
BOQUEIRÃO. As ondas eram imensas e quebradiças por conta do choque das águas com
as pedras da costeira. Eu naquele momento não poderia parar de remar um segundo
sequer, pois caiaque tombaria e eu estava sem o bendito colete salva-vidas.
E assim segui por um longo período,
lutando contra aquela “tempestade” e contra as minhas próprias idéias. Cantei,
remei, chorei, gritei. Éramos sós nós dois eu e o mar, o mar e eu, sendo que
por varias vezes pensei que viraria comida de siri e camarão, rss.
Ninguém poderia ouvir minha
cantiga, nem meus choros, tampouco meus gritos. Meus braços foram meus
parceiros, mas com a grande intensidade nas remadas eles já estavam pedindo arrego,
rsss.
Em torno de uns 500 metros
da chegar da praia, não tive como segurar mais a força dos ventos e das ondas,
diante disso o caiaque tombou, sendo
levado rapidamente em direção à
costeira. Fiquei por um minuto boiando, meio atônito, mas tentando raciocinar
sobre o que faria nos momentos seguintes. Lembrei da roupa, dos celulares e
documento do carro que havia perdido. Quando de repente o saco que continha esses
equipamentos surgiu boiando sobre as ondas minutos depois. Assim que o catei prendi
junto à camiseta, depois tirei a corda que segura a sunga, amarrei no remo e o prendi junto a perna.
A partir daí fui nadando próximo
da costeira, onde ouvi o barulho do caiaque, sobrepondo as pedras. Naquela “pilha”
consegui retira-lo do local, levando-o nas costas por uma trilha até a praia e
depois de coloquei-o novamente no carro e em seguida fui devolver o remo que havia emprestado,
lebram?.
E nessa hora já era o frio
que me acompanhava por conta daquelas fortes chuvas somada ao vento, queda da temperatura,
etc e tais... E isso ai minha gente. Carlos Roberto Paiva