Assim como faço costumeiramente, um dia destes peguei minha bike para dar aquela pedalada e também sentir o movimento, ver as pessoas, curtir a leveza do corpo, observar as paisagens, etc., com os equipamentos adequados é claro.
Seguindo o curso da estrada, após alguns quilômetros rodados, um tanto quanto compenetrado com o belo visual e a sinuosidade da pista, surge a poucos metros na minha frente alguém que desembocava de uma rua de acesso ao bairro onde eu estava transitando naquele momento. Este fato não foi corriqueiro como os demais, e me levou a pensar também na estrada das idéias, nos caminhos da vida, e a refletir um pouco acerca de nós mesmos, e sobre nosso relacionamento com o próximo e com o mundo.
O guri, assim que me avistou, se aprumou em cima da bicicleta, pedalando com força e rapidez. Cá comigo, achei que ele estivesse com pressa, mas pouco depois percebi que constantemente o menino olhava pra traz em minha direção. Notei então que era pra saber o quanto ele estava na minha frente. Minutos mais tarde, ao se aproximar de um trecho mais íngreme, avistei-o novamente e observei que o mesmo ia caminhando lentamente, segurando a bike com as mãos. Pensei então que ele deveria estar um pouco cansado e exausto. Contudo, assim que percebeu a minha presença, subiu de imediato na bicicleta e acelerou consideravelmente, mesmo estando naquela inclinação forte. Tempos depois desceu até entrar numa rua que dava acesso a outro bairro, e eu fui em frente, seguindo o curso da estrada.
Na verdade parece que naqueles poucos momentos vividos eu e o rapaz fomos o espelho claro da humanidade. Sem nos conhecermos um ao outro, sem participarmos de uma competição, sem objetivo nenhum, enfim sem nada, estávamos em busca de uma “vitória” que considerei completamente tola, fútil e sem graça. O fato é que esse acontecimento me fez refletir e analisar acerca de nossas formas e atitudes cotidianas que são produto daquilo que florescemos bem lá dentro, no mais íntimo dos nossos instintos animalescos. Nossa peguei pesado agora hein, rsrs...
Queiramos ou não, carregamos conosco essa dinâmica fria e sem vida que diuturnamente gera disputas insanas, concorrências e o desvairado desejo de querer ser o(a) melhor, mais rápido(a), mais rico(a), mais famoso(a), mais bonito(a), mais badalado(a), mais bronzeado(a) mais escultural, mais frutas, verduras, mais pêra, mais melancia, se quiser pode continuar a lista, poderá até gerar um livro, rsrs... Parece que o valor das pessoas está pautado naquilo que elas podem representar aos olhos humanos, mais precisamente na imediata imagem que apresentamos. Elas merecem o que os olhos vêem. Frase minha. Com isso a essência, a sabedoria, a prudência, o respeito, a dignidade, a tranqüilidade para tratar com as adversidades, a capacidade de pensar, aos poucos vão sendo lançadas ao vento e infelizmente estão a caminho do esquecimento.
Para quê tantas disputas tolas, se ninguém é melhor que ninguém? Para quê tantas disputas tolas, sendo claro e certeiro que o pó cobrirá nossos ossos mortais?
Dias atrás assisti uma reportagem acerca de jovens e adolescentes moradores de regiões localizadas no interior do país, os quais foram obrigados a amputar braços, ou estão com o corpo deformado por conta da utilização de remédios que são específicos para animais. Como explanei acima, é uma atitude tomada por aqueles que são de “baixa instrução”, mas são comprados bela ambição de ser o melhor, ter uma aparência mais esbelta, de alguma forma serem enxergados. É a busca de uma vitoria tola, que vem gradativamente ganhando força, tanto lá no interior, como nos grandes centros, enfim onde está o sapiense, infelizmente estão as disputas, e o “desejo” de ser o melhor. Desejo que não leva ninguém a lugar algum, e em alguns casos, podendo até detonar com a saúde. Carlos Roberto Paiva