Num certo dia, eu quis fugir das constantes guerras diárias, e tentei tomar fôlego para poder superar as ondas gigantescas ocasionadas pelos fortes ventos que as levantam, alinham, sustentam, e logo em seguida as fazem quebrar bem aqui, nos rochedos das minhas idéias. Fazendo brotar conceitos, julgamentos, e criticas insanas.
No lance da psicologia, temos informações que nós, os sapienses, não possuímos a capacidade de barrar as bilhões de informações produzidas pela nossa bela massa encefálica. Nem que estejamos curtindo um esplêndido repouso, ou sonhando.
Uma saída, ou um “remédio”, seria criar novas janelas, ou novas idéias, que viessem a ser o recurso para que, com o tempo, pudéssemos estagnar o lixo produzido diariamente pela memória.
No âmbito religioso, aprendi desde pequenino que cada pensamento descontrolado é mais um pecado contado. Cá pra nós, a nossa lista diária é grande demais, hein! Às vezes fico pensando o seguinte: será que o Deus maravilhoso que me criou como ser único, com essa nobre capacidade de escolher, sentir, amar, pensar... é o mesmo Deus que está disposto a me chicotear e a cobrar por cada “ato” das minhas idéias?
Na estrada da fuga, naquele dia, a tarde estava brusca e chuvosa, e ainda as idéias permaneciam “latejando”. A única coisa boa é que eu estava caminhando com um amigo. Naquele momento incomum, outros ares eram extremamente necessários, pois os bloqueios instalados em minha mente poderiam gerar uma “big” explosão nos rochedos das minhas idéias.
Mas o meu chegado, aquele que me acompanhava, não olhava pra mim, e ainda seu focinho constantemente tocava o chão. Foi então que ele realizou um ato nobre e inesperado para comigo: beijou os meus pés. Pra ser sincero, chorei!
Seguindo as passadas, apesar de estar comovido com o carinho daquele amigo, continuei truncado e arredio. Parecia que neste mundo só existia eu e mais ninguém. Ouvia, sim, os barulhos, os roncos, sentia até os movimentos, contudo os únicos pés que tocavam a poeira naquele momento eram os meus.
Então aconteceu algo fantástico. Meus olhos meio que turbulentos e ainda molhados pelas águas geladas da chuva e aquecidas pelas constantes lágrimas, conseguiram então vislumbrar alguém sentado na beira do caminho. Confesso que a princípio fiquei com medo, pois pensei que fosse um anjo guardião, segurando a espada, tomando conta da entrada do céu. Mas de repente, sua voz suave e tranqüila perfumou os ares e me chamou para junto de si. Não pensei duas vezes, imediatamente me apressei e corri ao seu encontro.
Depois que o anjo fez a “leitura do meu estado”, de imediato não me dirigiu nenhum verbo, apenas me tocou com a ponta das suas asas. Logo, esse gesto estancou minhas lágrimas. Depois proferiu palavras que foram colhidas lá de dentro, das suas próprias experiências. Mais adiante, me estimulou a armar as cortinas que auxiliam a barrar os ventos, acalmar as tempestades, decrescer as ondas daqui dentro de mim. “Um dia de cada vez” me disse o anjo. Com isso, minhas “loucuras” foram sendo dissipadas e a paz retornou ao seu devido lugar.
Para mim, além da importantíssima “cura” que me incidiu, algo muito importante que aprendi com essa história é que, pra ver e estar com um “anjo”, não há necessidade de acontecer um ato fantástico, milagroso, sobrenatural... é simplesmente ter e conservar um AMIGO (a).